O estado de Alagoas é famoso por suas praias paradisíacas, valendo-lhe até o título de "caribe brasileiro". Mas uma atração alagoana pouco destacada nos roteiros turísticos é o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, situado na Serra da Barriga, município de União dos Palmares.
O parque memorial quilombo dos palmares |
O parque é localizado onde outrora foi o famoso Quilombo dos Palmares. E embora famoso, ao visitar o local descobri que sabia muito pouco sobre o assunto. Lá a história é contada por guias locais, tendo ao fundo o som da capoeira e como cenário reconstituições de instalações da época do Quilombo. Então lá aprendi não só sobre detalhes da história de Zumbi, mas também de Ganga Zumba, o líder anterior do Quilombo.
Ganga Zumba e Zumbi |
Muito pouco se deixou escrito sobre a vida no Quilombo, uma vez que os registros oficiais perenizaram apenas o ímpeto de destruir o Quilombo. Dessa forma, história, mito e questionamentos se mesclam nessa incrível saga do Brasil do séc XVII.
Algumas coisas interessantes sobre o Quilombo dos Palmares que aprendi por lá ou depois que lá passei:
* Diz-se que Zumbi teria sido criado por um padre, tendo uma educação erudita que incluiu o aprendizado de latim. Posteriormente como líder, se mostrou um grande estrategista militar. Sua face era coberta por uma máscara, para evitar que sua identidade pudesse ser revelada aos portugueses.
* Quilombo é uma palavra mais recente e mais sulista. Na época, o que se dizia é que havia um coletivo de mucambos. Palmares também é um nome conferido pelos portugueses. Os moradores chamavam a confederação de mocambos por Angola Janga (Pequena Angola). Esse aspecto federativo faz com que alguns atribuam a Palmares o título de "república". Contudo, alguns enxergam que a estratificação social africana era lá reproduzida, sendo Ganga Zumba um verdadeiro monarca.
* Alguns estimam que Palmares chegou a ter 20 mil habitantes, uma população heterogênea que incluía também índios, que já estavam lá antes do quilombo, e brancos, que eram principalmente mulheres raptadas e homens fugidos do serviço militar.
* Graças a estratégias e à topografia do terreno Palmares resistiu a dezenas de ataques por mais de um século! Dizem os locais que os quilombolas se valiam da capoeira na guerra!
* Ganga Zumba fez um acordo com os portugueses para se chegar a uma pacificação. Para essa paz, seria necessário que os quilombolas se retirassem de Palmares. Zumbi discordou e o grupo rachou: alguns foram com Ganga Zumba e outros ficaram com Zumbi. Nesse conflito, alguns dizem que Zumbi mesmo teria matado Ganga Zumba. Naturalmente, os portugueses não honraram os compromissos, e aqueles que seguiram Ganga Zumba acabaram sendo novamente escravizados.
* Para pôr fim ao quilombo, invocou-se o bandeirante Domingos Jorge Velho. Mesmo assim a empreitada não foi fácil. No parque os guias contam os detalhes militares do confronto!
* Diz-se que no ataque final Zumbi foi morto e sua cabeça foi exposta ao público. Porém, como Zumbi usava uma máscara, muitos acreditam que Zumbi não teria morrido naquela ocasião. Talvez tenha continuado a viver em alguma comunidade quilombola remanescente. Aliás, embora a federação tenha sido destruída para sempre, alguns mocambos de Palmares continuaram a existir enquanto comunidades quilombolas até os dias de hoje!
* Havia poucas mulheres no quilombo. Devido a isso, os quilombolas raptavam algumas moças brancas pobres para morarem no quilombo. Lá no quilombo, uma mulher podia ter vários maridos, e com isso tinham grande influência nas decisões da comunidade. Até mesmo as grandes decisões deveriam passar pela anciã Aqualtune, uma princesa e guerreira do Congo, mãe de Ganga Zumba. Dandara, esposa de Zumbi, também é uma guerreira de destaque na história!
* Os quilombolas também organizavam expedições para libertar negros e levá-los ao quilombo. Ao chegar no quilombo, naturalmente esses negros deveriam trabalhar para contribuir com a comunidade. E aí surge a polêmica sobre a existência de escravidão dentro de Palmares, o que é plausível devido a sua existência na sociedade africana. Porém, é preciso ter cuidado aqui, uma vez que a natureza dessa possível escravidão provavelmente difira substantivamente do que era a escravidão tipicamente praticada no Brasil Colonial.
A muxixama, onde os líderes dos mocambos se encontravam |
Pedra onde os quilomboas amolavam suas armas |
Além da história de Palmares, o Parque procura valorizar os elementos da cultura afro-brasileira, seja a religiosidade, a música, os trajes ou a alimentação. Aliás, no parque há um ótimo restaurante de culinária africana. A melhor refeição que tive em Alagoas, tudo muito gostoso!!!
Capoeira |
Orixás |
Quanta comida boa |
O próprio parque é relativamente recente. Foi preciso muita luta para sua criação. E as coisas ainda estão difíceis. Percebe-se uma certa falta de manutenção. Quando lá fui, alguns dispositivos interativos de áudio já não estavam mais funcionando. A venda de lembranças poderia ser mais bem explorada (sugestões: camisetas e mini-estátuas de Zumbi), o que ajudaria no financiamento do parque, além de contribuir para sua divulgação. Assim, para que o Parque Memorial não caia no esquecimento, o mais importante é que a sociedade se aproprie dele e vá visitá-lo! Vale muito a pena!
Monumento em União dos Palmares |
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Há um filme dos anos 80 chamado Quilombo do Caca Diegues muito bom que retrata a história de Palmares. No início do filme é Acotirene que governa para depois passar para Ganga-Zumba e Zumbi. No início do governo do Lula foi criada a lei 10639/03 que instituiu a obrigatoriedade do ensino da história da África e cultura afro-brasileira em todas as escolas do Brasil. Li em algum lugar rapidamente que o governo Temer quer acabar com a lei.
ResponderExcluirUma correção (por Larissa Suyama): a comida do Parque Memorial Quilombo dos Palmares é do tipo "afro-indígena", e não exatamente "africana" como eu escrevi.
ResponderExcluirMuito legal, Leonardo! Aprendi bastante com as suas fotos e o texto. Sei que existem algumas pesquisas arqueologicas no parque dos Palmares. Assim sendo, acredito que haja interesse em resgatar a historia do local por meio de fontes nao escritas, ja que essas sao quase inexistentes. O problema sao as verbas. Talvez seja hora de tambem iniciar parcerias com o setor privado. Mas valeu, bonito texto!!!
ResponderExcluirEh, de fato. Lá no parque o guia apresentou um buraco com vestígios arqueológicos para os quais ainda não se conseguiram arqueólogos para os investigarem!
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ResponderExcluirolá! Por favor, quanto tempo é necessário para conhecer o parque? Uma manhã é o suficiente? Ou precisa de um dia inteiro? Obrigada
ResponderExcluirDe fato sim
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